quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

carta

essa carta é para você.
sim, é, não adianta olhar assim.
só leia baixinho tentando ouvir sua voz junto com a minha.

nesse último ano tenho torcido para os seus olhos brilharem menos.
tenho também torcido para seu sorriso ser menor, ser mais discreto e menos generoso comigo.
tenho torcido ainda para o seu toque ser mais frio - sim, tenho - mas de nada vale se o seu calor é sempre o mesmo.

me sinto num pátio te escrevendo, e te escrevendo vejo como esse amor é grande.
como é verdadeiro e avassalador.
e é tão insistente e bonito.
tão sem juízo e não crível.

e eu acho que não consigo mais me desligar desse sentimentozinho.
sentimentozinho que, tão devagarinho, fez meus olhos terem vontade de ser só seus.
assim como os meus abraços e o tremor nas pernas.
e os arrepios e a vontade, sem controle, de mostrar os dentes num sorriso bem grandão.

sem razão, sou sua. e serei - já me convenci - até quando eu tiver que ser.


"se por acaso 
a gente se cruzasse 
ia ser um caso sério 
você ia rir até amanhecer 
eu ia ir até acontecer
 de dia um improviso 
de noite uma farra 
a gente ia viver com garra
 eu ia tirar de ouvido todos os sentidos
 ia ser tão divertido
 tocar um solo em dueto
 ia ser um riso
 ia ser um gozo
 ia ser todo dia
 a mesma folia
 até deixar de ser poesia
 e virar tédio
 e nem o meu melhor vestido era remédio 
daí vá ficando por aí 
eu vou ficando por aqui
 evitando 
desviando 
sempre pensando
 se por acaso a gente se cruzasse..."
Alice Ruiz